CONSUMO COMO POLÍTICA DE GOVERNO

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1   – INTRODUÇÃO

 

O ato de consumir é inerente à condição humana. O ser humano necessita para manter sua existência da extração de bens do meio em que vive, o que importa em retirar da terra, da água, do ar, o necessário para a subsistência humana.

Porém, consumir não é apenas fundamento para sobrevivência humana. No decorrer dos séculos, com o surgimento de sistemas econômicos, desenvolvimento de culturas, dos povos, das nações, o ato de consumir passou a incorporar elementos, significados e valores diferentes entre pessoas e sociedades.

A expressão “é a economia, estúpido”, atribuída ao assessor da campanha presidencial de Bill Clinton, James Carville, quando candidato à presidência dos Estados Unidos da América, dá a dimensão de como tornou-se relevante o tema em detrimento de outros debates, como saúde e educação, por exemplo.

O cidadão, ora consumidor, por meio dos benefícios de uma economia estável e previsível, pode adquirir os bens desejados. Portanto, dentro da lógica deste sistema, justificável a preocupação.

Essa óbvia percepção da questão econômica engendra-se nas entranhas da política de governo. Governar para garantir poder consumir ou consumir para poder governar?

2   – CONSUMO E CONSUMISMO

 

Como inicialmente mencionado, o ato de consumir é banal, inerente ao homem, realizado diariamente muitas vezes sem nos darmos conta.

Nada consumir é forma de vida, talvez, impensável ao homem moderno, de tal sorte que não se imagina a vida sem o consumo de algum bem.

Bauman afirma que:

se reduzido à forma arquetípica do ciclo metabólico de ingestão, digestão e excreção, o consumo é uma condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem limites temporais ou históricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós humanos compartilhamos com todos os outros organismos vivos 2.

Superada a singela questão, uma vez que esse espartano consumo está distante dos anseios da sociedade capitalista, surge questão que supera largamente a simples necessidade humana de sobreviver.

No ambiente do consumismo moderno pessoas, serviços, experiências, sensações e coisas foram reduzidos a mercadorias.

Com isso, o ato de consumir tornou-se uma experiência pessoal de busca de identidade desprendida de qualquer outra razão instrumental; tornou-se meramente a busca da satisfação do desejo.

Jean Baudrillard, ao referir-se ao desejo, faz uma analogia com um conto sobre um homem que vivia na “raridade”, e ao encontrar-se com a “sociedade da abundância”, casa-se com ela, gerando muitas “necessidades”:

Todo o discurso, profano ou científico, acerca do consumo se articula na sequência mitológica de um conto: um Homem, “dotado” de necessidades que o “impelem” para objectos, “fontes” da sua satisfação. Mas, como o homem nunca se sente satisfeito (aliás, é censurado por isso), a história recomeça sempre indefinidamente, com a evidência defunta das velhas fábulas. 3

A lógica das relações de consumo nasce originariamente de uma necessidade humana, atendida pela fruição do bem consumido, retornando como resposta desta necessidade humana.

Verifica-se na sociedade de consumo a inversão desta lógica, ao constatar-se a existência de nova relação: consumo-homem-consumo no lugar de homem-consumo- homem. Ou seja, o consumo se justifica nele mesmo.

2 BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro. Editora Jorge Zahar . 2008. p.37.

3 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa. Edições 70. 1995. p.68.

 

Nesse sentido, Bauman afirma:

 

Pode-se dizer que o “consumismo” é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, ” neutros quanto ao regime”, transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de auto-identificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas individuais.4

Portanto, podemos afirmar que essa cultura de consumo possibilita a identificação do indivíduo na sociedade por meio de uma escolha individual.

Logo, o individuo se identifica com o grupo pelas escolhas que faz, e por sua capacidade de consumir, e, contrariamente, estará fatalmente excluído do grupo se não pode consumir.

Porém, não há uma relação direta do ato de consumir com alguma função instrumental, mas apenas o caráter do prazer individual,   a “propulsão” do sistema que se justifica em si, conforme explica Bauman.

O impacto desta necessidade de destaque perante o grupo atinge enfaticamente os mais jovens, sendo particularmente destrutivo nos grupos sociais mais pobres.

Jovens desses grupos sofrem mais fortemente a necessidade de identificação por marcas de consumo que possam deixá-los no mesmo patamar dos demais jovens.

Lipovetsky explora essa realidade expondo:

 

A ansiedade está (…) na origem do novo gosto dos jovens adolescentes pelas marcas. (…) Ostentar um logotipo, para um jovem, não é tanto querer alçar-se acima dos outros quanto não parecer menos que os outros. (…) levando à recusa de apresentar

4 Ob. citada. p. 41.

 

uma imagem de si maculada de inferioridade desvalorizada. (…) é por isso que a sensibilidade às marcas é exibida tão ostensivamente nos meios desfavorecidos. Por uma marca apreciada, o jovem sai da impessoalidade, pretende mostrar não uma superioridade social, mas sua participação inteira e igual nos jogos da moda, da juventude e do consumo. 5

Para Lipovetsky (2007) não existe mais subcultura análogo à dos guetos e da pobreza. Os valores individualistas e consumistas das classes médias, a preocupação com a personalidade individual e autorrealização também são compartilhados pelas classes pobres. O que impacta fortemente, especialmente no indivíduo pobre, é não ser inferiorizado, ter atingida sua dignidade.

Segundo Lipovetsky: “a sociedade de hiperconsumo é marcada tanto pela progressão dos sentimentos de exclusão social quanto pela acentuação dos desejos de identidade, de dignidade e de reconhecimento individual (2007, p.192)”.

Como exemplo, a curiosa propaganda do FIAT BRAVO 2012, amplamente veiculada no primeiro semestre de 2012 na televisão, na qual o indivíduo se torna invisível por não ter um carro que possa se destacar no meio social, tornando-se novamente visível quando adquire este automóvel.

Para Bauman (2008, p.41) , enquanto o consumo é uma ocupação das pessoas, “consumismo é um atributo da sociedade”.

Campbell entende que a questão do consumismo não deve ser enxergada exclusivamente sob um prisma necessariamente fútil, mas como uma significação metafísica, conforme propõe no artigo intitulado ” Eu compro, logo sei que existo: as bases metafísicas do consumo moderno”:

” A conclusão que cheguei é de que há de fato hipóteses metafísicas significativas que servem de base ao consumismo moderno, hipóteses que, intrigantemente, não parecem estar

5 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo. Companhia das Letras, 2007.p.50.

 

limitadas à esfera do consumismo propriamente dito, mas que estão em outras esferas da vida contemporânea. O que isto pode estar indicando é que a vida de consumo – com seu emanacionismo e fé no poder da mágica – tem se tornado uma espécie de padrão ou modelo de como os cidadãos nas sociedades contemporâneas ocidentais passaram a encarar todas as atividades”.6

Para Campell, emoção e subjetividade caracterizam o consumismo, o que enfatiza a busca de gratificação dos desejos e não satisfação de necessidades.

Parece não ocorrer divergência sobre a existência de uma ideologia individualista na qual o atendimento dos desejos é fulcral.

Campbell, ao contrário de Bauman, afirma que o individuo termina por se “encontrar” ao consumir, quando estabelece que há um caráter transcendente no consumismo.

Conforme vimos em Bauman, em sentido contrário, o que ocorre seria a própria desintegração do indivíduo no sistema consumista que se retroalimenta.

De qualquer forma, a ideologia consumista subverteu completamente a lógica de um consumo do “necessário”, ou de um consumo “comedido”, na medida em que está impregnada de estímulos para sua autoalimentação, sem deixar de mencionar a estrutura econômica simbiótica que a sustenta e que se faz sustentar por ela.

3. CONSUMO E A BUSCA DA FELICIDADE.

 

Talvez a busca da felicidade seja a grande ilusão de mercado de nossos tempos. Colocar a felicidade em ligação com o mercado tem uma razão de ser, pois a felicidade torna-se uma mercadoria à disposição de consumidores ávidos a alcançá-la.

Muito comumente os meios publicitários vinculam a felicidade com o consumo, ao sugerir que comprando determinada mercadoria ou serviço o indivíduo a encontrará.

6 Barbosa, Livia; Campbell, Colin (org). Cultura, Consumo e Identidade . RJ. Ed. FGV, 2007. p.63.

 

Nesse sentido é muito comum nos depararmos com os mais variados anúncios publicitários, de margarina, carros, imóveis, dentre outros, realizando tal vinculação.

Zizek, ao conceituar felicidade, a expõe como traidora do desejo:

 

Num sentido lacaniano estrito do termo, deveríamos então postular que a “felicidade” se baseia na incapacidade, ou aversão, do sujeito de enfrentar abertamente as consequências de seu desejo: o preço da felicidade é permanecer o sujeito preso à inconstância do desejo. Na vida diária, (fingimos) desejar coisas que na verdade não desejamos, e assim,ao final, o pior que pode nos acontecer é conseguir o que “oficialmente” desejamos. A felicidade é, portanto, intrinsecamente hipócrita: é a felicidade de sonhar com coisas que na verdade não queremos7.

 

Como já mencionado neste texto o consumismo busca a satisfação de desejos, tem caráter subjetivo e lastro na emoção.

Sendo a felicidade a negação do desejo, como afirma Zizek, a busca da satisfação do desejo por meio do consumo é inócua no que tange a ser feliz, uma vez que felicidade é a negação do desejo.

Por isso, a felicidade finda por resignar-se com o possível, sonhando permanentemente com algo que não temos, e que se algum dia conseguirmos, descobriremos incompleto pela eterna sublimação do inalcançável desejado.

 

 

Um dos efeitos mais seminais de se igualar a felicidade à compra de mercadorias que se espera que gerem felicidade é afastar a probabilidade de a busca da felicidade um dia chegar ao fim. (…) Na pista da felicidade não existe linha de chegada” 8.

 

7       ZIZEK,      Slavoj.     Bem-Vindo     Ao      Deserto     Do      Real!     Disponível     em http://pt.scribd.com/doc/84076009/ZIZEK-Slavoj-Bem-Vindo-Ao-Deserto-Do-Real. p. 82.

8 BAUMAN, Zygmunt. A Arte da Vida. Rio de Janeiro. Editora Jorge Zahar, 2009.p. 17.

 

No mundo descrito por Bauman em a “Modernidade liquida”, coisas e pessoas parecem absolutamente descartáveis e substituíveis, a felicidade tem cor cinzenta e natureza fluida:

Num mundo em que o futuro é, na melhor das hipóteses, sombrio e nebuloso, porém mais provavelmente cheio de riscos e perigos, colocar-se objetivos distantes, abandonar o interesse privado para aumentar o poder do grupo e sacrificar o presente em nome de uma felicidade futura não parecem uma proposição atraente, ou mesmo razoável (…). Raramente param por tempo suficiente para imaginar que os laços humanos não são como peça de automóvel – que raramente vêm prontos, que tendem a se deteriorar e desintegrar facilmente se ficarem hermeticamente fechados e que não são fáceis de substituir quando perdem a utilidade. 9

A busca da felicidade no consumismo foi demonstrada como inócua, e adicionando-se a este fato o caráter fluido e imediato das relações com pessoas, coisas e tempo, não é de se estranhar que o mote das campanhas publicitárias seja o “ser feliz agora”.

“Ser feliz” torna-se o produto ideal da publicidade, pois mesmo sendo inalcançável sempre parecerá estar a um passo do indivíduo.

Conforme conceitua Gilles Lipovetsky ao referir-se sobre as funções da publicidade:

 

Tudo que é agressivo é eliminado em favor do “frescor de viver” e das volúpias a serem colhidas sem a preocupação com outrem. A publicidade […] funciona como […] instrumento de legitimação e de exacerbação dos gozos individualistas. Não nos focaliza no outro, mas em nós mesmos. Ninguém é ameaçado, ninguém é magoado, todo mundo tem o direito de aspirar à felicidade por intermédio dos bens mercantis.10

 

9 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro. 2001. P.187.

 

10 Ob. Citada.P.313.

 

Igualmente, se há alguma relação entre felicidade e amor, o segundo não tornou-se imune aos efeitos do consumismo.

A liquidez professada por Bauman estabelece um liame entre consumo, felicidade e amor.

Em “Amor Líquido” Bauman denuncia a fugacidade das relações amorosas graças a fluidez dos tempos: “Compromissos são válidos até que a satisfação desapareça ou caia abaixo de um padrão aceitável – e nem um instante a mais”. 11

Segundo Arlie Russell Hochschild (apud Bauman, 2008, p.153), assim se refere ao fenômeno da materialização do amor:

O consumismo atua para manter a reversão emocional do trabalho e da família. Expostos a um bombardeio continuo de anúncios graças a uma mídia diária de três horas de televisão                  (metade de todo o seu tempo de lazer), os trabalhadores são persuadidos a “ precisar” de mais coisas. Para comprar aquilo de que agora necessitam, precisam de dinheiro. Para ganhar dinheiro, aumentam sua jornada de trabalho. Estando fora de casa por tantas horas, compensam sua ausência do lar com presentes que custam dinheiro. Materializam o amor. E assim continua o ciclo.

Estabelecida as compensações entre amor e consumo nos tempos líquidos, torna-se natural crer que o resultado impacte diretamente na busca da felicidade propalada na sociedade de consumo.

Essa felicidade centrada “no possuir” está firmada também no segredo do sucesso e do bem-estar.

Gilles Lipovetsky (2007, p.316) destaca que as conversas cotidianas estão centradas na hipérbole das qualidades que entendemos nos pertencer. Logo, os filhos são os “mais bonitos”, nosso trabalho “apaixonante”, as férias “geniais”. Trata-se da

11 BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido. Editora Zahar. Rio de Janeiro. 2009. P.26.

 

suspensão da inveja dos outros. Ignora-se a inveja alheia. Na verdade, a inveja alheia é desejada.

Torna-se natural que essa busca por valores hiperbólicos, que conduzem hipoteticamente a felicidade, redunde na apropriação pelo próprio sistema da mercantilização das chaves do sucesso.

 

Lipovetsky (2007, p.352) conceitua que o “novo paradigma” é construído pelo silogismo segundo o qual o que nos acontece é o espelho de nossa atitude interior.

 

Por isso, se podemos mudar e controlar nossa consciência, a felicidade nos pertence, e está em nossas mãos; logo, podemos ser tão felizes quanto decidimos sê-lo conforme o credo incansavelmente repetido pelos mestres em espiritualidade e desenvolvimento pessoal.

 

Esse controle sobre nossa atitude interior tem como objetivo a “vitória”, o “sucesso”, “suplantar o outro”, conforme explica Lipovetsky (2007, p. 319), uma vez que com a extrema individualização dos costumes, prevalece o sentimento de que “eu sou possivelmente feliz, os outros não o são “.

 

Com isto: “ ser o melhor, destacar-se, superar-se: eis a sociedade democrática “convertida” ao culto do desempenho, “vetor de um desenvolvimento pessoal de massa”.12

 

Não há mais o axioma de mudar a si mesmo para mudar o mundo, mas mudar o mundo pelo progresso das leis, da justiça e condições materiais de existência que embelezam a vida e proporcionam toda espécie de satisfações materiais (Lipovetsky, 2007, p.217).

 

12 Ob. Citada. P.264.

4 . GOVERNO E CONSUMO

 

Para Giorgio Agamben (2011) o governo cumpre o papel da realização da economia que anteriormente era um das funções de Deus, a ponto de uma ruptura com o próprio divino:

  1. A providência (o governo) é aquilo através do qual a teologia e a filosofia buscam enfrentar a cisão da ontologia clássica em duas realidades separadas: ser e práxis, bem como transcendente e bem imanente, teologia e oikonomia. Apresenta-se como uma máquina capaz de rearticular os dois fragmentos na gubernatio dei (governo de Deus), no governo divino do 13

Ocorre que o governo de mercado tornou-se hegemônico no sentido de propor que o mercado regule todas as funções da vida econômica e social, de tal sorte que o mercado regula tudo.

Sendo os bens finitos, e o mercado dirigido pelo capital, tornou-se mais evidenciados que nem todos poderiam consumir o que quisessem o mesmo alguma coisa.

Debord, no prólogo da Sociedade do Espetáculo em 1992, apontava a questão da encruzilhada na qual o mundo se encontrava, com a falência do projeto socialista, e a falta de alternativas para o proletariado:

[…] justo reconhecer-se a dificuldade e a imensidade das tarefas da revolução que quer estabelecer e manter uma sociedade sem classes. Ela pode muito facilmente começar por toda a parte, onde, assembléias proletárias autônomas, não reconhecendo fora delas nenhuma autoridade, nem propriedade de quem quer que seja, colocando a sua vontade acima de todas as leis e de todas as especializações, abolirão a separação dos indivíduos, a economia mercantil, o Estado. Mas ela só triunfará impondo-se universalmente, sem deixar uma parcela do território a nenhuma forma subsistente de sociedade alienada. Lá, voltar-se-á a ver uma Atenas ou uma Florença onde ninguém será rejeitado, alargada até às extremidades do mundo, e que,tendo abatido todos os seus

13 AGAMBEN, Giorgio. O reino e a glória: uma genealogia teológica da economia e do governo. São Paulo. Editora Boitempo. 2011. p.157.

 

inimigos, poderá finalmente entregar-se com alegria às verdadeiras divisões e aos afrontamentos sem fim da vida histórica.

Esta vontade de modernização e unificação do espetáculo é a que levou a burocracia russa a converter-se repentinamente, em 1989 à atual ideologia da democracia: isto é, à liberdade ditatorial do Mercado, moderada pelo reconhecimento dos Direitos do Homem espectador. Ninguém no Ocidente fez o menor comentário crítico acerca do significado e as conseqüências de tão extraordinário acontecimento midiático, o que prova por si mesmo o progresso da técnica espetacular. A única coisa que se pôde registar foi a aparência de um fato de natureza geológica. Fecha-se o fenômeno, considerando-o suficientemente compreendido, e contentando-se em reter um sinal tão elementar como a queda do muro de Berlim, tão discutível como os restantes sinais democráticos.

 

Os primeiros efeitos da modernização detectaram-se em 1991, com a completa dissolução da Rússia. Aí vemos exposto com mais clareza que no Ocidente, o desastroso resultado da evolução geral da economia. Os caos não é mais que a sua conseqüência. Em todas as partes se encontra a mesma terrível pergunta, que desde à dois séculos se faz ao mundo inteiro. Como fazer trabalhar os pobres ali onde se desvaneceu toda a ilusão e toda a força desapareceu?14

Produção, provimento e consumo tornaram-se o dilema do sistema capitalista, no qual simbioticamente um depende do outro.

A falência de um é o fracasso do outro, mantendo, com isso, a porta aberta para insurreições sociais com o pano de fundo do racismo, uma vez que o culpado torna-se o outro que toma o emprego dos que chegaram antes.

Zizek (2003), ao expor sobre a realidade após o 11 de setembro, deixa claro esse mecanismo de sustentação social, quando fala da apropriação pela direita da infelicidade gerada pela falência do sistema.

 

14 Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/71591645/A-Sociedade-Do-Espetaculo-Guy-Debord.

 

Quando todos os governos optam pela forma do produzir mais, vender mais, e consumir mais, é evidente que há um limite que é a própria escassez de bens.

Não há bens para todos no mundo. O capital é volátil, como menciona Bauman (2008) flutuando onde o sistema econômico é mais dócil, sendo certo que capital em fuga gera imediatamente a escassez monetária no país afetado.

Porém, este artigo não tem qualquer pretensão do estudo sobre economia ou mercado de capitais; não versa sobre o acordo de Bretton Woods, da industrialização pré ou pós-guerra, nem sobre os anos dourados do capitalismo, ocupando-se apenas com a forma de governo de providência, como denomina Agamben (2011).

A providência como própria missão divina confiada ao soberano, e antes responsabilidade dos anjos.

Não é a toa a profusão de denominações religiosas com grande sucesso de adeptos que se ocupam na realização do governo na terra, no sentido de suprir as necessidade materiais dos homens.

A oikonomia é presente.

 

5.   UM OLHAR SOBRE CONSUMO NO BRASIL APÓS OS ANOS 80

 

O Brasil experimentou nos últimos 30 anos um notável crescimento no consumo.

Conforme número disponibilizados no site do IPEA, desde os anos 80 até 2012 o consumo de energia elétrica mais que triplicou.

Como já explicado, este artigo não tem qualquer característica de estudo econômico, apenas tem o cuidado de apresentar alguns dados que demonstram a evolução do consumo no Brasil em face de uma política de governo que gradualmente atrela o consumo a estratégia gerencial.

Nos anos 80, segundo dados do IPEA15, o Brasil consumiu por residência, uma média mensal aproximada de 3.000 GWh.

Na década de 90 a média mensal foi de 5.000 GWh por residência.

15 Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br. pesquisa realizada em 30/06/2012.

 

Do ano 2000 até dezembro de 2011 a média de consumo de energia elétrica por residência subiu para cerca de 7.500 GWh.

Considerando que em meados dos anos 90 o Brasil passou por um histórico “apagão” de energia elétrica, os números demonstram que, apesar disso, o consumo por residência mais que dobrou nos últimos 30 anos.

Considerando, ainda, que em 1980 a população brasileira era de cerca de 120 milhões de pessoas e em 2010 aproximadamente 190 milhões, não podemos concluir que esse aumento no consumo de energia possa ser computado exclusivamente na conta do aumento populacional, uma vez que a população aumentou cerca de 60% enquanto o consumo de energia elétrica mais que dobrou.

Esse aumento de consumo de energia elétrica por residência demonstra que o cidadão brasileiro equipa cada vez mais sua casa com as facilidades dos aparelhos elétricos e eletrônicos.

É também expressivo o aumento nas vendas de carro de passeio.

 

Em 1980 foram vendidos cerca de 66.000 carros mensalmente no Brasil, número médio que pouco mudou no decorrer da década de 80 e 90, segundo dados do IPEA.

 

Porém, em 2010 essa média subiu para 186.000 carros vendidos por mês no

Brasil.

 

O número de veículos vendidos por mês triplicou nos últimos 30 anos.

 

O Brasil não destoa da política de consumo desenvolvida por Europa e Estados Unidos há muitos séculos. A novidade é que agora o país passa a suprir uma carência histórica no consumo de bens.

Em termos da lógica do sistema, não há nada de novo, como explica Lipovestky16:

 

16 Ob. Citada. P. 218-219

 

Centrado na acumulação dos bens, na eletrificação e na mecanização do lar, esse modelo de conforto é de tipo tecnicista- quantitativo e é sonhado como o que apaga as sujeições, como prótese miraculosa que traz higiene e intimidade, ganho de tempo e facilidade de vida, distração e entretenimento passivos. […] Depois do conforto-luxo […] o […] conforto-liberdade (“a técnica liberta mulher”) […] Vitrine do progresso técnico e da racionalização do cotidiano, instrumento de uma vida melhor, o conforto tornou-se a figura central da felicidade-repouso, dos gozos fáceis possibilitados pelo universo técnico-mercantil.

 

O que se apresenta agora fracamente aberto é o incentivo ao consumo por parte do Governo, que se apresenta como provedor das necessidades de consumo, seja com incentivos fiscais, seja discursando claramente a favor do consumo pela população, como fez o então presidente Lula em rede nacional no advento da crise que assolou o mercado de hipotecas nos Estados Unidos e refletiu em todo o mundo no ano de 2008.17

17

Minhas amigas e meus amigos,

 

 

Esta noite quero conversar com vocês sobre a crise econômica mundial. É uma crise muito diferente das anteriores. Não surgiu num país emergente ou na periferia do sistema. Ao contrário, nasceu e explodiu no coração do mundo desenvolvido. Mais precisamente, nos Estados Unidos e na Europa.

 

Esta crise, que afeta todo o mundo, foi provocada pela falta de controle do sistema financeiro nos países mais ricos. Em vez de cumprirem seu papel na economia, financiando o setor produtivo, os bancos viraram um grande cassino.

 

A jogatina foi longe, mas, um dia, a conta chegou. Bancos quebraram, um grande número de empresas entrou em dificuldades e milhões de trabalhadores perderam suas casas ou seus empregos.

 

Aqui no Brasil não tivemos este tipo de crise. Nosso sistema bancário estava e está saudável. Nossa economia, arrumada e organizada vem crescendo a taxas robustas, as maiores dos últimos 30 anos.

 

Portanto, a crise coincide com nosso melhor momento. É uma pena, mas como estamos muito bem, a situação é menos complicada. Todos concordam que somos um dos países mais preparados para enfrentar este desafio.

 

Nas crises anteriores, em poucos dias o Brasil quebrava e era obrigado a pedir socorro ao FMI. Desta vez, o Brasil não quebrou, nem vai quebrar. Esta enfrentando a situação de cabeça erguida.

 

Enquanto a maioria dos países ricos está em recessão, o Brasil vai continua crescendo. É verdade que, com o vento a favor, poderíamos ir mais longe. Mas, mesmo com o vento contra, podemos e vamos seguir progredindo.

 

Se hoje estamos em melhores condições para enfrentar qualquer crise, é porque soubemos fazer as opções acertadas. É porque aceleramos o crescimento da economia em bases consistentes. E crescemos distribuindo renda e reduzindo as desigualdades entre as regiões.

 

Em primeiro lugar, mantivemos a inflação sobre controle. Quando assumi o governo, a inflação estava acima de 9% . Foi declinando ano a ano. Em 2008, mesmo com a explosão dos preços internacionais, ela vai ficar dentro da meta.

Também diminuímos a dívida pública. Em 2003, ela representava 52% do PIB. Foi caindo e este ano deve ficar em 36%.

 

Além disso, diversificamos nossas exportações. Viajei pelo mundo afora, como um verdadeiro mascate dos nossos produtos. Alguns nos criticaram. Mas hoje, quando os Estados Unidos e a Europa estão no olho do furacão, vemos como foi acertada a decisão de diversificar nossas relações comerciais.

 

Minhas amigas e meus amigos,

 

 

Outra vantagem são as nossas grandes reservas em moeda internacional. Quando assumimos, o Brasil devia muito ao FMI e ao Clube de Paris. Hoje, não deve um só centavo.

 

Naquele tempo, nossas reservas em moeda estrangeira eram muito baixas. Hoje chegam a 207

bilhões de dólares. Com isso, deixamos de ser devedores para ser credores internacionais. Uma diferença e tanto. Agora temos um colchão de segurança para nos proteger.

 

Mas nossa maior defesa hoje é a força do mercado interno. Ele fez progressos extraordinários nos últimos anos. Para isso, foram decisivos o Bolsa-Família, a melhoria do salário mínimo e a expansão do emprego.

 

De 2003 para cá, o salário mínimo cresceu em termos reais, 51% e o emprego também cresceu fortemente.

 

Em 2007, batemos um recorde: 1 milhão 812 mil novos empregos com carteira assinada. Em 2008, novo recorde: até outubro, 2 milhões 148 mil empregos. Resultado: a taxa de desemprego caiu de 12,3% em 2003 para 7,6% em outubro de 2008.

 

Nosso desenvolvimento econômico e social fez com que, nos últimos anos, mais de 20 milhões de pessoas entrassem na classe média.

 

Tudo isso fez a roda da economia girar mais forte e abriu um círculo virtuoso no nosso país. Mudamos de cara e de astral.

 

Minhas amigas e meus amigos,

 

 

Esses avanços estão permitindo ao Brasil enfrentar com firmeza e serenidade o atual momento.

 

 

E estamos agindo em todas as frentes desde que a crise começou. Já adotamos medidas para normalizar o crédito, para apoiar nossas empresas exportadoras e para manter a atividade nos setores que geram mais empregos, como as pequenas e médias empresas, a agricultura, a construção civil e a indústria automobilística. Reforçamos o poder de fogo dos bancos estatais e baixamos impostos para que as empresas e os consumidores pudessem ter um pouco mais de dinheiro em caixa e no bolso.

 

Ao mesmo tempo, o governo manterá todos os investimentos previstos no PAC, e nos programas sociais. Em hipótese alguma, haverá cortes nos investimentos governamentais. Porque eles são decisivos para o Brasil enfrentar a crise e sair dela mais reforçado.

 

Minhas amigas e meus amigos,

 

Quero dizer, com toda a serenidade, que a crise não nos assusta. O país está preparado e tem comando. Seguiremos acompanhando com lupa a situação da economia, 24 horas por dia. O que tiver que ser feito, será feito. No tempo certo e na dose adequada. E sempre dialogando com o país.

 

Mas é fundamental que todos façam sua parte.

 

 

É importante que os empresários sigam investindo. É imprescindível que os trabalhadores defendam a produção e o emprego. Já o setor financeiro, deve trabalhar para estimular o crédito e baixar os juros, que estão muito altos.

 

E você, meu amigo e minha amiga, não tenha medo de consumir com responsabilidade. Se você está com dívidas, procure antes equilibrar seu orçamento. Mas, se tem um dinheirinho no bolso ou recebeu o décimo terceiro, e está querendo comprar uma geladeira, um fogão ou trocar de carro, não frustre seu sonho, com medo do futuro.

 

Porque se você não comprar, o comércio não vende. E se a loja não vender, não fará novas encomendas à fábrica. E aí a fábrica produzirá menos e, a médio prazo, o seu emprego poderá estar em risco.

 

Assim, quando você e sua família compram um bem, não estão só realizando um sonho. Estão também contribuindo para manter a roda da economia girando. E isso é bom para todos.

 

Minhas amigas e meus amigos,

 

 

Posso assegurar que o Brasil não só vencerá a crise, como sairá dela mais forte. Temos todas as condições para isso. Em 2009, vamos começar a explorar as imensas reservas do pré-sal. Com isso, o Brasil passará a ser um dos grandes produtores de petróleo do mundo. Estamos todos no mesmo barco. E se remarmos juntos na mesma direção, venceremos as turbulências e prosseguiremos na rota do crescimento. Só depende de nós.

 

Como é sabido, no início da década de 90 o presidente Fernando Collor sofreu um histórico processo de impeachment . As razões históricas passam pela corrupção, mas também pela carência econômica da época.

 

Durantes os governos seguintes, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, as denúncias de corrupção não deixaram os noticiários. “Mensalão”, troca de ministros, denúncias de desvios em licitações continuaram em cena.

 

Como vimos em Zizek, em Bem-Vindo ao deserto do real (2003), se toda democracia é corrupta e as soluções para combater a corrupção são abarcadas pela ultra direita, o que mudou? A corrupção acabou? Por que todos os governos posteriores a Collor não caíram?

 

Em que pese o risco de uma resposta superficial e simplista, ousamos pensar que o que mudou no Brasil foi preponderantemente a economia.

 

A economia, o crédito e o consumo, diluíram qualquer insatisfação política.

 

Como percebido pelo assessor de campanha de Clinton, Carville, a economia é a base da segurança e do sucesso do poder governamental.

 

Um feliz natal para você e para sua família. Que 2009 seja um ano ainda melhor que 2008. Que seja um ano de saúde, de paz e de prosperidade.

 

Acredite   no    Brasil    porque   antes    de    tudo,   você   estará    acreditando   em    você. Boa noite.

 

Disponivel             em:              http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL932658-5601,00- LULA+PEDE+QUE+BRASILEIROS+CONTINUEM+CONSUMINDO+COM+RESPONSAB

ILIDADE.html. Pesquisa realizada em 03/06/2012.

 

Com o consumo em alta, até as manifestações de rua tornaram-se mercadorias reproduzidas pelas redes sociais, particularizadas e fragmentadas como se espera deveriam ser nos nossos tempos.

 

Longe de um enfrentamento de embate político em razão de questões cruciais como saúde e educação, ou mesmo contra a corrupção no governo, o quadro que se apresenta é de manifestação do “homo sacer” de Agamben, ou do “homo otarius” de Zizek, versando sobre particularidades como a preferência sexual, a marcha “das vadias”, da fidelidade a Jesus etc.

 

Enquanto se puder consumir a crédito tudo ficará diluído.

 

6.   CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Esse relato final é efetuado sobre dois prismas.

 

O primeiro deles é a conclusão de que consumo como política de governo é estratégia que em algum momento se mostrará exaurida, porém garantidora de poder enquanto puder ser exercida.

 

Os desejos são infinitos, os insumos e bens finitos, e intimamente ligados a um capital fluído e volátil.

 

A felicidade no consumo é insaciável se autoalimentando em um ciclo eterno de necessidades fabricadas.

 

O governo pela lógica do consumo acarreta a exclusão social, e o descuido com questões que não sejam de mercado, individualizando e fracionando até mesmo o ser humano.

 

Incentivar o consumo indefinidamente em concomitância com impulsos de consumo destinados aos indivíduos, torna-se política geradora de violência, uma vez que, como vimos, quem mais sofre esse impacto são as classes mais pobres.

 

Não podendo consumir nos mesmos moldes dos mais ricos, as classes mais pobres devem sublimar de alguma forma o desejo, ou tomar os objetos de desejo a força.

 

Em um segundo prisma, o consumo no Brasil.

 

O Brasil é um país de inúmeras necessidades, inclusive de consumo.

 

Nesse sentido, somente agora foi possibilitado um maior acesso aos bens de consumo.

 

Não podemos afirmar se há uma concentração de consumo por classes sociais, ou se há melhora nessa padrão. Todavia, imaginamos que há exclusão por região, sexo, idade etc., mas não realizamos aprofundamento nesse tema, nem era o objetivo desse trabalho.

 

Concluímos que a população brasileira tende a dispensar a cidadania no que se refere as questões políticas se lhe for propiciada boas condições de consumo por uma economia estável.

 

Acreditamos não se tratar de nenhuma novidade em comparação com outros países que alcançaram padrão de consumo elevado há mais tempo.

 

Porém, o mecanismo do sistema é o mesmo, submetido à condições de capital volátil, produtor de exclusão social, violência e finito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

  

AGAMBEN, Giorgio. O reino e a glória: uma genealogia teológica da economia e do governo. Editora Boitempo. São Paulo. 2011.

BAUMAN, Zygmunt. A Arte da Vida. Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro. 2009.

 

                     Amor liquido. Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro. 2009.

 

                     Modernidade liquida. Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro. 2001.

 

                    Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Editora Jorge Zahar. Rio de Janeiro. 2008.

BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Edições 70. Lisboa. 1995.

 

BARBOSA, Livia; CAMPBELL, Colin (org). Cultura, Consumo e Identidade . RJ. Ed. FGV, 2007.

 

DEBORD,       Guy.       A       Sociedade       do       Espetáculo.       Disponível        em: http://pt.scribd.com/doc/71591645/A-Sociedade-Do-Espetaculo-Guy-Debord

 

G1.GLOBO.COM/Noticias/Politica/0,,MUL932658-5601,00- LULA+PEDE+QUE+BRASILEIROS+CONTINUEM+CONSUMINDO+COM+RESP ONSABILIDADE.html.

 

IPEADATA.GOV.BR.

 

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Companhia das Letras. São Paulo. 2007.

 

ZIZEK,      Slavoj.      Bem-Vindo      Ao      Deserto      Do     Real!      Disponivel      em http://pt.scribd.com/doc/84076009/ZIZEK-Slavoj-Bem-Vindo-Ao-Deserto-Do-Real.

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SOBRE MIM

Cassio Faeddo

Cassio Faeddo

Advogado. Mestre em Direito. MBA em Relações Internacionais FGV SP

Pós-graduado em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho.

Especialista em Direito Público internacional e Relações internacionais.

Professor universitário desde 1998 tendo lecionado nas Faculdades Hebraico Brasileira Renascença, Anhembi-Morumbi, Unibero e Centro Universitário SENAC.

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